Conclusões de estudo que usou 1 trilhão de dados

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postado em 21 de Junho de 2017 20h35

Homem usa smartphone em loja de Seul, em janeiro de 2017. Dados de IPs do mundo todo são usados por pesquisa da Universidade de Chicago

Atualmente, cerca de 3,5 bilhões de pessoas utilizam a internet no mundo. Pela primeira vez na história, cerca de metade da humanidade está conectada a uma mesma tecnologia.

Isso significa que grande parte das atividades humanas está sendo gravada em tempo real. Os dados são usados comercialmente por empresas que oferecem serviços na internet, mas também podem servir para pesquisas acadêmicas.

Estudiosos da Universidade de Chicago, por exemplo, dizem acreditar que esses dados têm potencial para mudar a forma de se pesquisar.

Eles reuniram dados de IP (Internet Protocol), espécie de identidade de cada computador pessoal existente no planeta, incluindo a localização geográfica das máquinas, de 2006 a 2012 e a cada 15 minutos. Isso representa, no total, 1 trilhão de observações.

As informações obtidas permitiram entender quantos IPs acessaram a internet e quando o fizeram no período, em 122 países.

A análise foi publicada no estudo “A internet como plataforma de ciências sociais quantitativas: Insights de um trilhão de observações”, disponível na plataforma para arquivos acadêmicos Arxiv.

Abaixo, algumas conclusões a que chegaram os pesquisadores.

O crescimento da internet

Os pesquisadores usaram os dados para entender a forma como a internet se propaga nos países. A conclusão é de que ela segue um padrão bastante similar. Inicialmente, o crescimento é lento, depois ocorre de forma acelerada e se estabiliza quando há cerca de um endereço de IP para cada três pessoas.

Em média, esse processo dura 16 anos. Segundo os pesquisadores, esse ritmo supera com folga a velocidade de propagação de outras tecnologias de uso amplo que revolucionaram as sociedades humanas nos últimos séculos. Criada no século 18, a tecnologia a vapor demorou em média cerca de 100 anos para se propagar em cada país. Criados no século 19, aparelhos à energia elétrica levaram 60.

Disponível na pesquisa, o gráfico abaixo mostra o processo de propagação da internet em média e com destaque para os exemplos de Estados Unidos, Quênia, Geórgia, Áustria e Letônia.

O eixo horizontal divide em anos o período no qual a internet se propagou em cada país, e o vertical, o grau de saturação de IPs até o ponto em que a propagação da internet atinge um pico e se estabiliza. Normalmente, o pico é atingido em um país quando se chega a um IP para cada três pessoas. Por isso, quando o eixo vertical indica 0,5, por exemplo, isso quer dizer que um país está no meio do caminho de atingir a saturação. Quando indica 1, isso significa que há um IP para cada três pessoas e o nível de saturação naquele país foi atingido. A linha cinza mais grossa mostra o tempo que a propagação da internet dura em média entre todos os países. O destaque em vermelho no canto superior direito do mapa indica o tempo que o processo demora em média: 16,1 anos.

Conectividade e produtividade

Os pesquisadores também observaram a correlação entre conectividade e crescimento da economia, e descobriram que um número maior de endereços de IP per capita também significa um PIB (Produto Interno Bruto) — soma de toda a riqueza produzida no país em dado período — per capita maior. E que economias crescem mais rápido nos períodos em que estão se conectando.

O trabalho estima que um crescimento de 10% no número de IPs per capita corresponde a uma alta de 0,8% no PIB naquele período.

Os pesquisadores da Universidade de Chicago ressaltam, no entanto, que esse crescimento não ocorre de maneira uniforme entre todos os setores econômicos. No geral, setores mais sensíveis à concorrência com a internet, como o editorial, jornalístico ou cinematográfico, tiveram retração conforme o número de IPs aumentava.

Por outro lado, setores comercial, imobiliário, de reparos, transporte e acomodação tiveram crescimento. O estudo não explica exatamente por que essa diferença ocorre e afirma que os dados mostram “apenas correlações e não permitem uma interpretação causal”.

Ou seja, apesar de concluir que há uma correlação entre acesso à internet e crescimento econômico, a pesquisa não chega a afirmar que a internet é responsável por esse crescimento.

Essa afirmação é feita, no entanto, por algumas análises de consultorias financeiras, que esperam crescimento econômico e oportunidades de negócios conforme países que têm pouco acesso à internet se conectem.

Por exemplo: um estudo publicado em 2015 pela gigante de serviços financeiros Morgan Stanley aponta que o mercado de vendas pela internet movimenta US$ 11 bilhões por ano na Índia, e chegaria a cerca de US$ 137 bilhões em 2020 caso apenas um terço das cerca de 900 milhões de pessoas ainda não conectadas no país passassem a ter acesso à internet.

Mudanças nos padrões de sono

O estudo da Universidade de Chicago também buscou analisar mudanças nos padrões de sono em 645 cidades ao redor do globo entre 2006 e 2012. Para isso, os pesquisadores partiram do pressuposto de que, quando um IP vai de on-line para off-line, isso quer dizer que seu dono foi dormir. E quando ele volta a ficar on-line, seu dono acordou.

Se estiver correta, a análise mostra tanto diferenças entre padrões de sono entre um continente e outro quanto particularidades regionais dentro dos países.

Os dados mostram que os padrões de sono da América do Norte se mantiveram relativamente estáveis durante o período do estudo, enquanto a duração do sono na Europa diminuiu e, no Leste da Ásia, cresceu.

Além disso, a pesquisa aponta que moradores de grandes centros urbanos têm períodos de sono mais longos do que aqueles de cidades periféricas em seu entorno. Os pesquisadores não levantam hipóteses sobre por que essas diferenças ocorrem.